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Escola desafia alunos a escrever redação do Enem usando apenas IA: os resultados surpreendem

Postado em: 29/08/2024 | Por: Emerson Alves

O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo decidiu incorporar a inteligência artificial (IA) nas atividades escolares, desafiando seus alunos do ensino médio a escrever uma redação nos moldes do Enem utilizando apenas o ChatGPT.

Com o crescente impacto das ferramentas de IA generativa, como o ChatGPT, na educação, os professores do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo resolveram explorar a tecnologia de maneira prática, levando-a para a sala de aula. Os alunos foram instruídos a produzir uma redação completamente gerada pela IA, sem escrever uma única palavra autoral. Os resultados mostraram que a maioria dos estudantes obteve notas medianas, devido a problemas como inconsistência de informações e falta de fluidez nos textos.

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Resultados e reflexões sobre o uso da IA na redação

O professor Lucas Chao, responsável pela atividade, observou que apenas uma aluna se destacou por conseguir orientar a IA de maneira eficaz. “Ela sabia o que queria e direcionou bem a ferramenta. Isso mostra que o sucesso no uso da IA depende de um bom comando e de um objetivo claro,” comentou Chao. Segundo ele, a ferramenta pode ser extremamente útil para aprofundar o conhecimento dos alunos, mas quando utilizada para terceirizar o trabalho, o resultado é insatisfatório.

A iniciativa faz parte de um esforço maior da escola para integrar a IA em várias disciplinas, sempre com a orientação de que os resultados não sejam considerados autorais. “Geramos um manual para guiar o uso de IA generativa na escola,” explicou Chao. Para ele, é essencial preparar os alunos para as oportunidades e desafios do mundo moderno, onde a tecnologia desempenha um papel cada vez mais importante.

Debate sobre o papel da IA na educação

O uso da IA no ambiente escolar também foi tema de discussão no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, onde a tecnologia já faz parte do currículo desde 2018. A coordenadora de tecnologia da escola, Verônica Cannatá, enfatizou a importância de utilizar a IA de maneira transparente, permitindo que os alunos explorem suas potencialidades, mas sem que apresentem o trabalho como 100% autoral.

A abordagem da escola Dante inclui o uso da IA em projetos de iniciação científica, como o desenvolvimento de uma pulseira para detectar sinais de sonambulismo e um chat box que responde a perguntas baseadas nos conteúdos estudados. Para os alunos envolvidos nesses projetos, a IA é vista como uma ferramenta poderosa, mas que deve ser usada com responsabilidade e ética.

Impacto da IA na educação pública e nas desigualdades

Verônica Cannatá destacou a necessidade de expandir a discussão sobre o uso da IA para o setor público, argumentando que ignorar essa tecnologia é criar um novo tipo de analfabetismo tecnológico. No entanto, Paulo Blikstein, professor da Universidade de Columbia, alerta para o risco de aumento das desigualdades, especialmente entre alunos de escolas públicas e privadas, devido ao acesso desigual à tecnologia.

Blikstein também ressaltou a importância da formação humana no processo de integração da tecnologia na educação. “O que muda a educação não é a tecnologia em si, mas as pessoas que a utilizam,” afirmou. Ele criticou a tendência de investir pesadamente em tecnologia, sem um correspondente investimento na formação de professores, o que poderia levar a uma adoção superficial e ineficaz da IA nas escolas.

Conclusão

A experiência do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo demonstra tanto o potencial quanto os desafios do uso da inteligência artificial na educação. Enquanto alguns alunos conseguem utilizar a ferramenta para enriquecer seu aprendizado, outros ainda precisam desenvolver as habilidades necessárias para orientar a IA de forma eficaz. O uso ético e crítico dessa tecnologia na sala de aula é fundamental para preparar os estudantes para um futuro onde a IA será uma parte integrante da sociedade e do mercado de trabalho.