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Jornal usa inteligência artificial para driblar censura na Venezuela

Postado em: 05/09/2024 | Por: Emerson Alves

A organização Connectas, com sede na Colômbia, criou âncoras virtuais utilizando inteligência artificial para contornar a repressão do regime de Nicolás Maduro contra jornalistas na Venezuela.

A organização Connectas, liderada por Carlos Huertas, desenvolveu um projeto inovador de jornalismo com o uso de âncoras criados por inteligência artificial (IA). O objetivo principal dessa iniciativa é fornecer informações ao público venezuelano e ao mesmo tempo proteger os jornalistas de possíveis retaliações por parte da ditadura de Nicolás Maduro, que tem reprimido a imprensa e restringido a liberdade de expressão no país.

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El Pana e La Chama: vozes da IA

O projeto, batizado de ‘Operação Retweet’, é gerido a partir da Colômbia e utiliza dois apresentadores virtuais: El Pana (que significa “o amigo”) e La Chama (“a garota”). Ambos são figuras criadas com aparência e vozes realistas, transmitindo notícias e manchetes de forma que imitam humanos. A utilização dessas personagens virtuais foi uma solução encontrada para evitar a repressão e oferecer uma alternativa segura de comunicação. A escolha do nome do projeto faz alusão à plataforma Twitter/X, onde a disseminação de informações é crucial.

Segurança dos jornalistas em risco

Carlos Huertas, diretor da Connectas, destacou que o uso de IA foi uma decisão estratégica para garantir a continuidade do trabalho informativo em um ambiente onde os jornalistas enfrentam perigos diários. “Aqueles que ainda estão exercendo seu trabalho no país estão expostos a muitos mais riscos”, afirmou Huertas. De acordo com o Repórteres Sem Fronteiras, desde junho, pelo menos dez jornalistas foram presos na Venezuela, com acusações de terrorismo. Oito deles permanecem detidos, evidenciando a gravidade da situação.

Repressão e controle eleitoral na Venezuela

A repressão contra a imprensa ocorre em um momento de alta tensão política na Venezuela, onde as recentes eleições de julho de 2024 se tornaram alvo de disputas entre o governo e a oposição. Tanto o atual presidente Nicolás Maduro quanto a oposição reivindicam vitória nas eleições de 28 de julho. O candidato da oposição, Edmundo González, declarou vitória com base na apuração parcial dos votos, enquanto o regime de Maduro, com o apoio do Tribunal Superior de Justiça e do Conselho Nacional Eleitoral, alega que o processo foi interrompido devido a um ataque cibernético. A Justiça venezuelana, controlada por chavistas, ainda não divulgou uma contagem completa dos votos.

Reação internacional

As eleições venezuelanas atraíram a atenção de observadores internacionais e países ocidentais, que denunciaram irregularidades no processo e pedem a apuração completa dos votos. A situação, porém, se agravou quando a Justiça venezuelana emitiu um mandado de prisão contra Edmundo González, acusando-o de fraude eleitoral. Isso gerou novas tensões internas e um clima de incerteza política no país.

O impacto da inteligência artificial no jornalismo venezuelano

A adoção de tecnologias como a inteligência artificial no jornalismo não só reflete a necessidade de proteção contra regimes repressivos, mas também marca um avanço na forma como a comunicação pode ser realizada em cenários de risco. O exemplo da Connectas mostra que, mesmo diante de um governo autoritário, existem maneiras criativas e inovadoras de garantir que a informação continue sendo disseminada. Para muitos venezuelanos, a existência de canais alternativos como o oferecido por El Pana e La Chama representa uma rara fonte de acesso a notícias isentas de censura governamental.

Por ora, o Ministério das Comunicações da Venezuela não se manifestou sobre a utilização de inteligência artificial para a difusão de notícias, tampouco respondeu aos questionamentos feitos pela agência Reuters sobre as prisões de jornalistas.

O uso de IA no jornalismo na Venezuela mostra como a tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa contra a repressão, proporcionando acesso à informação e, ao mesmo tempo, protegendo a segurança daqueles que se arriscam para mantê-la viva.