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Inteligência artificial e desinformação: desafios nas Eleições Municipais de 2024

Postado em: 30/08/2024 | Por: Emerson Alves

As Eleições Municipais de 2024 no Brasil enfrentam um novo cenário tecnológico, com a inteligência artificial desempenhando um papel central na propagação de desinformação e na manipulação de eleitores.

As Eleições Municipais de 2024 no Brasil prometem ser um marco na história política do país, não apenas pela disputa eleitoral em si, mas também pela presença significativa da inteligência artificial (IA) nas campanhas. A tecnologia, que pode ser uma aliada na criação de conteúdos e automação de processos, também traz preocupações sobre seu uso para a disseminação de desinformação e manipulação eleitoral.

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Histórico de desinformação nas eleições

O fenômeno da desinformação em eleições não é novo no Brasil. Desde 2016, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o país tem visto uma escalada na utilização das redes sociais como palco para a disseminação de notícias falsas. Essa prática se intensificou nas eleições presidenciais de 2018, onde a polarização política foi exacerbada por campanhas de desinformação, principalmente através de plataformas como o WhatsApp.

Autores como Felipe Nunes e Thomas Traumann destacam, em suas obras, como as eleições de 2018 inauguraram um novo jeito de fazer comunicação no Brasil, utilizando as redes sociais como principal meio de propagação de informações, verdadeiras ou não. Essa estratégia mudou a forma como os eleitores se relacionam com a política, criando um ambiente onde a verdade muitas vezes é ofuscada por narrativas fabricadas para influenciar o voto.

O papel da inteligência artificial nas eleições de 2024

Em 2024, a presença da inteligência artificial nas campanhas eleitorais eleva esses desafios a um novo patamar. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reconheceu essa realidade ao atualizar a Resolução Nº 23.610, introduzindo diretrizes específicas para o uso de IA nas campanhas políticas. As mudanças proíbem, por exemplo, o uso de deepfakes, que são vídeos manipulados por IA para alterar a voz e a face das pessoas, criando conteúdos que podem enganar os eleitores.

Além disso, qualquer propaganda eleitoral que utilize IA deverá informar claramente que o conteúdo foi produzido com o auxílio dessa tecnologia. Essa medida visa aumentar a transparência e ajudar os eleitores a identificar possíveis manipulações. A resolução também limita o uso de robôs nas redes sociais, exigindo que o contato com os eleitores seja feito de forma direta e humana.

Desafios na aplicação da lei e a responsabilidade das plataformas

Apesar das novas regulamentações, o desafio de controlar a desinformação nas redes sociais persiste. O TSE estabeleceu que as plataformas digitais, conhecidas como big techs, serão responsabilizadas caso não retirem imediatamente conteúdos que promovam desinformação, discurso de ódio, ideologias antidemocráticas, racistas ou homofóbicas. No entanto, a aplicação dessas regras em um ambiente digital tão vasto e dinâmico é complexa.

Ainda mais desafiador é o fato de que, mesmo com as regulamentações, a desinformação continua sendo um problema difícil de combater. Como destacou o jornalista britânico Mattew D’Ancona em seu livro *Pós-Verdade – A Nova Guerra Contra os Fatos em Tempos de Fake News*, os algoritmos das redes sociais são projetados para conectar os usuários com conteúdos que reforcem suas crenças, independentemente de sua veracidade. Isso cria “câmaras de eco” onde a desinformação pode proliferar, desafiando os esforços de regulação.

Impacto social e político das novas tecnologias

As eleições de 2024 também serão um teste para a sociedade brasileira, que terá que lidar com a influência crescente da tecnologia no processo democrático. A confiança no jornalismo tradicional está em declínio, conforme apontado pela pesquisa Digital News Report 2023, que revelou uma queda de 5% na confiança dos brasileiros na mídia entre 2022 e 2023. Ao mesmo tempo, a maioria dos brasileiros continua a se informar através das redes sociais, onde a desinformação pode se espalhar rapidamente.

Esse cenário apresenta um dilema: como garantir eleições justas e informadas em um ambiente onde a verdade pode ser manipulada por tecnologias avançadas como a inteligência artificial? O sucesso das novas regulamentações do TSE dependerá não apenas da sua aplicação rigorosa, mas também da capacidade dos eleitores de discernir entre fato e ficção em um mundo digital cada vez mais complexo.

Reflexões sobre o futuro das eleições no Brasil

A introdução da inteligência artificial nas campanhas eleitorais brasileiras marca uma nova era para a política no país. Se por um lado essa tecnologia pode otimizar e personalizar a comunicação com os eleitores, por outro, seu potencial para a manipulação e a desinformação é uma ameaça à integridade do processo eleitoral.

À medida que nos aproximamos das Eleições Municipais de 2024, é essencial que tanto eleitores quanto autoridades estejam vigilantes. O papel da sociedade civil e da imprensa será crucial para monitorar e denunciar abusos, enquanto as plataformas digitais devem ser pressionadas a cumprir rigorosamente as novas regulamentações. Somente assim será possível garantir que a inteligência artificial seja uma aliada da democracia, e não uma ferramenta para corroê-la.