Meus Apps


Uso da inteligência artificial no trabalho deve ser incluído nas negociações coletivas, defende CUT

Postado em: 28/08/2024 | Por: Emerson Alves

A implementação da inteligência artificial (IA) no ambiente de trabalho está gerando impactos significativos, e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) defende sua inclusão nas negociações coletivas para proteger os direitos dos trabalhadores.

A inteligência artificial (IA) está rapidamente ganhando protagonismo no mundo do trabalho, trazendo tanto oportunidades quanto desafios. Embora o tema ainda esteja em desenvolvimento nas discussões sindicais, seus efeitos já são sentidos nos locais de trabalho, o que torna essencial sua inclusão nas negociações coletivas. Esse tema tem aparecido de forma recorrente nos debates da presidência brasileira do G20 e em seus diversos grupos de engajamento, como o L20 (Trabalho), W20 (Mulheres), entre outros.

Leia também: Piauí adota inteligência artificial para monitoramento e prevenção de incêndios florestais.

A IA e a substituição da mão de obra humana

O Secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, destacou que, embora as tecnologias sejam conquistas da humanidade, elas estão sendo utilizadas para concentrar poder geopolítico, econômico e financeiro, em vez de servirem ao bem comum. Ele também apontou que a substituição da mão de obra pela IA é inevitável, mas com resultados incertos. A questão central é: quem ou o que substituirá os trabalhadores, e qual será o destino daqueles cujas funções forem tomadas pela IA?

Lisboa enfatiza que, embora alguns trabalhadores possam ser redirecionados para novas atividades, isso exigirá políticas públicas, investimentos em educação científica e tecnológica, além de mobilização sindical. Ele defende que a inclusão da IA nas negociações coletivas é crucial para garantir que os trabalhadores tenham clareza sobre como essa tecnologia afetará suas vidas.

O papel dos sindicatos na era da inteligência artificial

Lisboa sugere que os sindicatos devem incluir o tema da IA em suas pautas de reivindicações, além de formar alianças com universidades, pesquisadores e organismos internacionais. Isso fortaleceria a luta pela manutenção de empregos dignos e pela participação dos trabalhadores na formulação e monitoramento de políticas públicas relacionadas ao uso da IA.

A CUT já está discutindo estratégias para enfrentar os desafios trazidos pela IA, que incluem a redução da jornada de trabalho sem diminuição de salário, controle social e participação ativa dos trabalhadores no desenvolvimento das políticas públicas.

Preocupações com a discriminação e desigualdade

Uma das preocupações levantadas por Lisboa é a tendência da IA de reproduzir preconceitos existentes na sociedade. Como os algoritmos são baseados em dados de uma sociedade desigual, há o risco de que a IA perpetue ou até amplifique discriminações contra mulheres, LGBTQIA+, negros e pessoas com deficiência. Lisboa alerta que essa é uma discussão urgente que precisa ser aprofundada, pois a tecnologia pode reforçar injustiças estruturais em vez de mitigá-las.

Quem controla a inteligência artificial?

O controle da IA está concentrado nas mãos de grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs, e dos países do norte global, segundo Lisboa. Ele aponta que, em vez de servir à humanidade, a IA está sendo usada para promover os interesses do capital financeiro e do poder geopolítico, gerando ainda mais desigualdades. Lisboa defende que a IA deve ser colocada a serviço da humanidade, contribuindo para resolver problemas complexos e melhorar a vida das pessoas.

A importância da regulação e participação dos trabalhadores

Lisboa menciona a necessidade de uma estratégia nacional robusta para o uso da IA, com a participação dos trabalhadores em sua elaboração e monitoramento. Ele destaca a importância do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, recentemente anunciado pelo governo federal, que prevê investimentos de R$ 23 bilhões em 31 ações, incluindo o uso de IA para cruzar dados e oferecer emprego aos cidadãos.

Entretanto, Lisboa ressalta que ainda há um longo caminho a percorrer. A falta de informação acessível sobre IA é uma barreira significativa, o que torna crucial a educação e o engajamento de todos os setores da sociedade. Ele cita como exemplo positivo a greve recente dos trabalhadores da indústria cinematográfica de Hollywood, que conseguiu regulamentar o uso da IA na produção de roteiros e na criação de vozes e imagens dos atores, mostrando que é possível avançar na proteção dos direitos dos trabalhadores em face da automação crescente.