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Slop digital: O impacto da inteligência artificial na música e os desafios da autenticidade artística

Postado em: 27/08/2024 | Por: Emerson Alves

A proliferação de conteúdos gerados por inteligência artificial, conhecida como “slop digital”, está criando um caos na música e levantando questões sobre autenticidade, qualidade e os limites da criatividade humana.

A facilidade proporcionada pelas ferramentas de inteligência artificial para criar textos, imagens, áudios e vídeos está gerando uma explosão de conteúdo digital. Embora isso abra novas possibilidades criativas, também apresenta desafios significativos, especialmente em termos de autenticidade e qualidade. Na indústria musical, esse fenômeno já é conhecido como slop digital, uma referência ao excesso de conteúdo de baixa qualidade gerado por IA, que começa a dominar o espaço digital.

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O aumento exponencial do conteúdo digital

Atualmente, cerca de 50% do tráfego online é gerado por bots, sistemas automatizados que criam interações falsas em redes sociais, enviam spam e até cometem fraudes. Com o avanço das tecnologias de IA, essa tendência está se estendendo à produção de conteúdo, incluindo a música. A chegada da IA generativa, que permite criar músicas a partir de prompts de texto, está transformando a maneira como a música é produzida e consumida.

Plataformas como Suno, Udio e FlowGPT lideram essa tendência, oferecendo serviços que geram músicas inteiras automaticamente. No entanto, essa avalanche de conteúdo sintético traz consigo uma série de problemas, como a dificuldade de distinguir entre criações humanas e aquelas geradas por IA, além do risco de plágio. Isso levanta questões éticas sobre o valor de uma obra que não teve envolvimento humano direto.

Casos controversos de música gerada por IA

O impacto da IA na música já foi evidenciado em diversos casos recentes. Em 2023, o produtor conhecido como Ghostwriter gerou a música “Heart on My Sleeve” utilizando IA para emular as vozes dos artistas Drake e The Weeknd. A faixa confundiu muitos ouvintes, que acreditaram se tratar de uma colaboração real entre os artistas. Esse episódio gerou debates acalorados sobre os direitos autorais e os limites da criação artística com IA.

Outro exemplo é o artista FlowGPT, que adotou o nome da ferramenta como nome artístico e utilizou IA para clonar as vozes de Bad Bunny e Justin Bieber na música “NostalgIA”. Apesar das críticas, o produtor defendeu sua obra como uma nova forma de fazer música, aumentando a complexidade das discussões sobre IA na arte. Além disso, apoiadores do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, criaram músicas falsas de Taylor Swift para enganar eleitores jovens, demonstrando como a IA pode ser utilizada de forma enganosa.

O problema do excesso de conteúdo e a ameaça à autenticidade

O maior problema causado pelo slop digital é a simples questão de oferta e demanda. Com a quantidade de conteúdo superando a qualidade, a essência da criação humana se perde em um oceano de produções sintéticas. A IA generativa, ao permitir que músicas sejam criadas em massa, dificulta a descoberta de obras autênticas e de qualidade, tanto para artistas quanto para fãs.

Um exemplo revelador é a música “BBL Drizzy”, gerada por IA e incluída em playlists populares do Spotify como Discover Weekly, sem nenhuma identificação de que se tratava de conteúdo sintético. O produtor MetroBoomin, que sampleou essa faixa sem saber que era gerada por IA, é um exemplo de como as fronteiras entre criações humanas e geradas por IA estão se tornando cada vez mais nebulosas.

O futuro da música e a necessidade de regulamentação

Com a linha entre criação original e automatizada cada vez mais difícil de discernir, o valor da autenticidade artística pode estar em risco. No entanto, alguns acreditam que, diante de tanto conteúdo de baixa qualidade, as obras realmente boas e originais se destacarão naturalmente. Esse é o desafio que a indústria musical enfrenta: equilibrar a inovação tecnológica com a preservação da criatividade humana.

Para proteger os direitos autorais e a integridade artística, é urgente a necessidade de regulamentação. Somente assim será possível garantir que a música continue a ser uma expressão genuína da criatividade humana, mesmo em um mundo cada vez mais dominado por inteligência artificial.