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Inteligências artificiais conseguirão replicar o senso de humor humano?

Postado em: 23/08/2024 | Por: Emerson Alves

Comediantes e pesquisadores questionam se a inteligência artificial pode realmente capturar a essência do humor humano, ou se os robôs ainda têm um longo caminho a percorrer para fazer a plateia rir genuinamente.

Karen Hobbs, uma conhecida comediante britânica, estava nervosa em um show no Covent Garden Social Club, em Londres, no final de junho. Embora acostumada com o cenário imprevisível do stand-up no Reino Unido, desta vez ela enfrentava um desafio único: se apresentar com um roteiro de stand-up escrito inteiramente pela inteligência artificial ChatGPT. A plateia, famosa por ser exigente, seria a primeira a julgar se uma IA pode ou não ser engraçada.

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A inteligência artificial pode ser criativa?

O ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, revolucionou a interação com a IA ao se tornar uma ferramenta amplamente utilizada. Mas, quando se trata de arte, a questão é se uma IA generativa pode realmente ser criativa. Grandes modelos de linguagem (LLMs) como o ChatGPT trabalham processando bilhões de linhas de texto, aprendendo padrões e relações entre palavras e frases. No entanto, eles geram respostas que são, na melhor das hipóteses, combinações de ideias preexistentes, levantando questões filosóficas sobre a verdadeira criatividade.

Alison Powell, professora de comunicação da London School of Economics, argumenta que para entender se a IA pode ser engraçada, primeiro precisamos entender como as piadas funcionam. No humor de improviso, por exemplo, a criatividade instantânea é essencial, algo que uma IA ainda não consegue replicar plenamente. Powell também alerta para os riscos de plágio, já que muitos modelos de IA são treinados com conteúdo da internet, possivelmente sem permissão dos autores originais.

O desafio de criar humor autêntico

Michael Ryan, pesquisador de IA da Universidade de Stanford, explica que o humor envolve conduzir o público por uma narrativa até uma conclusão surpreendente e engraçada. Atualmente, as IAs não têm a capacidade de processar informações em tempo real da mesma forma que um humorista humano. No entanto, pesquisas estão em andamento para aprimorar a compreensão da IA sobre o contexto social e a adaptação ao público, o que poderia melhorar seu desempenho em criar humor no futuro.

Por enquanto, as piadas geradas por IA muitas vezes acabam sendo clichês ou estereótipos mal elaborados. Quando Hobbs pediu ao ChatGPT para escrever piadas em voz feminina, a IA produziu anedotas que reforçavam estereótipos grosseiros sobre mulheres millennials, evidenciando as limitações dos modelos atuais.

O futuro do humor gerado por IA

Ainda que a inteligência artificial esteja longe de substituir comediantes humanos, alguns especialistas acreditam que os avanços tecnológicos permitirão que as IAs gerem humor mais eficaz em breve. Drew Gorenz, da Universidade do Sul da Califórnia, conduziu um estudo comparando piadas geradas por humanos e IAs, e concluiu que, em alguns casos, as piadas da IA foram consideradas melhores por uma parte dos leitores.

No entanto, Gorenz enfatiza que o humor autêntico e vulnerável, esperado pelo público de stand-up, ainda é algo que as IAs não conseguem replicar. A autenticidade e a conexão emocional com o público são qualidades intrínsecas dos humoristas humanos, algo que, por enquanto, as máquinas não conseguem alcançar.

A luta pela digitalização do humor

Para Alison Powell, investir na digitalização do humor pode ser uma perda de recursos, tanto éticos quanto práticos. Ela argumenta que, em vez de tentar digitalizar a criatividade, seria mais produtivo investir em novos talentos humanos, que podem oferecer perspectivas únicas e culturalmente relevantes.

No final, a apresentação de Hobbs serviu como um experimento revelador. Embora a IA tenha conseguido gerar algumas risadas esporádicas, a maioria do público permaneceu perplexa, esperando por piadas melhores. Hobbs resumiu sua experiência ao dizer que nunca se sentiu tão fora de lugar no palco. A reação do público mostrou que, por enquanto, o senso de humor humano ainda é algo que as IAs não conseguem replicar completamente.