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Inteligência artificial e mitologia: o poder tecnológico em uma realidade moderna

Postado em: 29/08/2024 | Por: Emerson Alves

A inteligência artificial, com seu crescente impacto na sociedade, reflete elementos de mitologias antigas, onde o poder sobrenatural concedido aos humanos vinha acompanhado de grandes responsabilidades e possíveis maldições.

A mitologia sempre esteve presente na história da humanidade, narrando histórias de deuses que concediam poderes sobrenaturais aos humanos, muitas vezes como recompensa por feitos ou como parte de um pacto. Essas narrativas, embora fantásticas, representavam formas de explicar o inexplicável para as pessoas da época. Na sociedade moderna, a inteligência artificial (IA) surge como um novo tipo de “milagre tecnológico”, conferindo aos seus usuários poderes quase sobre-humanos, mas também trazendo consigo desafios éticos e morais significativos.

Leia também: A inteligência artificial e os desafios para a privacidade dos usuários.

O misticismo da inteligência artificial

Apesar da popularização da IA, seu funcionamento ainda é um mistério para a maioria das pessoas. Isso cria uma espécie de misticismo em torno da tecnologia, não no sentido de ser considerada sobrenatural, mas pela confiança quase cega que muitos depositam em algo que não compreendem completamente. Assim como nas antigas mitologias, onde o uso de poderes concedidos pelos deuses vinha com riscos, a utilização da IA pode ter consequências imprevistas se não for compreendida e administrada adequadamente.

O mito de Fausto e a analogia com a IA

Um paralelo interessante pode ser traçado com o mito alemão de Fausto, que foi popularizado por várias obras ao longo dos séculos. Na história, Fausto faz um pacto com Mefistófeles para obter conhecimento infinito e uma vida de prazeres, em troca de sua alma. Com o tempo, ele percebe que o preço desse poder era alto demais e tenta escapar do acordo, mas já é tarde.

Esse mito ilustra a ambição humana e os perigos de ultrapassar nossos limites sem considerar as consequências. Hoje, as plataformas digitais e a IA nos oferecem uma espécie de “onisciência e onipresença” virtual, mas a um custo: a perda de nossa privacidade e a crescente manipulação de nossos dados, o que afeta nosso livre arbítrio e senso crítico.

A barganha moderna: dados em troca de poder

Diferente de Fausto, que conscientemente fez seu pacto, nós raramente temos plena noção do que estamos entregando em troca dos benefícios tecnológicos. Ao utilizar IA e outras tecnologias, muitas vezes sem compreender completamente o que está em jogo, entregamos nossas informações pessoais a grandes empresas que lucram com esses dados e nos controlam cada vez mais.

O desequilíbrio de poder resultante dessa troca pode ser considerado tóxico. À medida que a IA se torna mais presente em novos dispositivos e serviços, esse desequilíbrio tende a se agravar. A nova geração de computadores e celulares, que já incorpora IA em várias de suas funções, pode aprofundar ainda mais essa dependência e controle.

É possível um futuro mais equilibrado?

Ainda há tempo para ajustar o rumo e buscar uma relação mais equilibrada e ética com a tecnologia. As empresas podem continuar lucrando, e a sociedade pode continuar a se beneficiar da IA, desde que haja transparência e respeito aos direitos dos usuários. No entanto, para isso acontecer, é necessário que a sociedade se organize e exija uma postura mais responsável dessas corporações.

Se não tomarmos essas precauções, corremos o risco de nos aproximar cada vez mais do destino de Fausto, onde o preço a pagar pode ser alto demais, e quando percebemos, pode ser tarde demais para desfazer essa “barganha”.