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Ilustradores enfrentam desafios com a ascensão da inteligência artificial: empregos e criações ameaçados

Postado em: 29/08/2024 | Por: Emerson Alves

Profissionais da indústria criativa, como ilustradores, enfrentam uma concorrência desleal com a inteligência artificial, que já está impactando diretamente suas rendas e oportunidades de trabalho.

A crescente popularidade da inteligência artificial (IA) generativa está causando profundas mudanças na indústria criativa, e os ilustradores são um dos grupos mais afetados. A IA, capaz de criar novos conteúdos a partir de vastos bancos de dados, tem sido uma ferramenta poderosa para a automação de tarefas artísticas, mas também tem gerado preocupações significativas entre profissionais que dependem de suas habilidades manuais para sustentar suas carreiras.

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O impacto direto na renda dos ilustradores

Lúcia Lemos, uma ilustradora de 30 anos do Rio de Janeiro, exemplifica os desafios enfrentados pela categoria. Em uma conversa recente com um antigo cliente, Lúcia foi informada de que, apesar de sua habilidade, já não era viável contratar seus serviços devido à eficiência e rapidez das criações geradas por IA. Essa nova realidade resultou em uma drástica redução em sua renda, que caiu de R$ 7 mil em seu melhor mês para menos de R$ 300 em um período recente.

Este não é um caso isolado. O diretor criativo Wagner Loud também relata que em São Paulo, setores inteiros de ilustração em empresas foram fechados ou drasticamente reduzidos, substituídos por sistemas de IA que agora geram arte a partir de palavras-chave. Para Wagner, essa mudança é desanimadora, pois retira a criatividade e a originalidade do processo artístico, substituindo-as por uma abordagem mecânica e impessoal.

Mobilização dos artistas em busca de proteção

Em resposta a essas mudanças, grupos de artistas, incluindo ilustradores e designers, têm se unido para discutir e propor soluções que protejam seus direitos. O grupo Unidad, criado em 2024, é um exemplo dessa mobilização, focado na proteção do trabalho autoral e na busca de legislações que regulem o uso de IA na criação de obras artísticas. Entre as principais preocupações está o uso do trabalho dos artistas para treinar sistemas de IA sem autorização ou remuneração.

A situação se tornou tão alarmante que até figuras proeminentes, como a cantora e compositora Marisa Monte, têm se envolvido na causa. Marisa participou de uma sessão no Senado para discutir o projeto de lei (PL 2338) que visa regulamentar a IA no Brasil. Ela defende que os direitos dos criadores sejam protegidos e que a legislação acompanhe as rápidas mudanças tecnológicas para garantir um ambiente justo e equilibrado para todos os profissionais criativos.

Desafios legais e a questão dos direitos autorais

O debate sobre os direitos autorais na era da IA é um dos mais intensos e complicados. Para que uma IA generativa funcione, ela precisa ser treinada com dados de textos, imagens e vídeos existentes, muitas vezes sem o consentimento dos criadores originais. Este processo tem levado muitos artistas a se sentirem “roubados”, pois seu trabalho é usado para treinar as ferramentas que estão, em última instância, ameaçando suas próprias fontes de renda.

Embora o projeto de lei em discussão no Senado represente um avanço ao exigir que desenvolvedores de IA informem quais conteúdos protegidos foram utilizados e remunerem os titulares desses direitos, a implementação prática dessa regulamentação ainda é uma grande incerteza. Especialistas temem que a compensação financeira que os artistas poderiam receber por terem suas obras utilizadas no treinamento de IA seja insignificante, dada a escala necessária para treinar esses sistemas.

O futuro incerto dos artistas na era da IA

Para muitos ilustradores, como Lúcia Lemos, o futuro é incerto. A IA já está transformando a indústria criativa, e enquanto alguns especialistas defendem que a tecnologia pode ser uma aliada, permitindo mais experimentações e aumentando a produtividade, o medo de que os artistas se tornem meros “recombinadores” de obras alheias é real. A nova realidade imposta pela IA exige uma adaptação dos profissionais, mas também uma regulamentação robusta que proteja seus direitos e garantias.

Enquanto a legislação ainda está sendo debatida, a comunidade artística continua a se mobilizar, na esperança de que suas vozes sejam ouvidas e que medidas concretas sejam tomadas para proteger a integridade de suas profissões. A questão é complexa, e como destaca Andrea Viviana Taubman, presidente da Associação de Escritores e Ilustradores Infantil e Juvenil, a ameaça não vem apenas da IA, mas da falta de investimentos em educação, formação artística e proteção dos direitos autorais no Brasil.

Apesar dos desafios, os artistas permanecem resilientes, buscando maneiras de sobreviver e prosperar em um mercado que está rapidamente sendo transformado pela tecnologia. Eles continuam a lutar por um futuro onde a arte, em todas as suas formas, seja valorizada e protegida.