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Essa escola pediu aos alunos uma redação do Enem 100% feita pelo ChatGPT

Postado em: 30/08/2024 | Por: Emerson Alves

O uso da inteligência artificial está impactando diversas áreas do conhecimento, inclusive a educação, onde escolas e universidades começam a integrar essas tecnologias em seus currículos.

Nem mesmo cursos tradicionais do ensino superior, como Medicina e Direito, estão imunes ao impacto da inteligência artificial (IA). Com o avanço da tecnologia e suas mudanças na forma como a sociedade interage e trabalha, os currículos acadêmicos começam a se adaptar, embora ainda de forma tímida.

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Nos Estados Unidos, uma pesquisa com 2.693 reitores de universidades públicas e privadas revelou que 14% das instituições já revisaram seus currículos para considerar o impacto da IA, enquanto 73% estão planejando atualizações. Entretanto, apenas 20% das instituições implementaram políticas formais para o uso da IA. A pesquisa foi realizada entre janeiro e fevereiro pela Inside Higher Ed, em parceria com a Hanover Research.

Marina Feferbaum, coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP, defende que a tecnologia deve ser integrada de forma transversal ao currículo. “Mesmo que o aluno não se aprofunde no tema, ele vai lidar com questões como crimes cibernéticos em Direito Penal. O direito digital é interdisciplinar. No início de cada semestre, reunimos os professores para discutir como abordar essas questões”, afirma.

A IA no Ensino de Direito e Medicina

A FGV também oferece disciplinas eletivas específicas, como automação de documentos jurídicos, por meio do Labtech, um laboratório de tecnologia voltado para o ensino jurídico. Nesta disciplina, ministrada em parceria com uma startup, os alunos aprendem a programar em Python para digitalizar a papelada, tão comum na profissão.

Outro exemplo do Labtech é a criação de um chatbot para responder a questões jurídicas. “Foi um grande desafio aprender essas lógicas, mas o mais difícil foi desenvolver as soft skills (habilidades comportamentais)”, conta Marina. Na FGV, estudantes a partir do 3º ano de Direito podem participar de projetos multidisciplinares.

Na área da Medicina, a IA também está ganhando espaço. Nas 15 instituições do Ecossistema Ânima que oferecem esse curso, os estudantes utilizam uma ferramenta que simula um paciente em um consultório virtual, permitindo interação e reduzindo erros através de um treinamento prático. “O aluno pode conversar com o paciente por voz, fazendo perguntas e recebendo respostas. Depois, analisamos o desempenho. A IA é fundamental para interpretar ações subjetivas e oferecer feedback claro”, explica Vinicius Gusmão, diretor de TI da Inspirali, responsável pelos cursos de Medicina da Ânima.

Desafios para a Integração da IA na Educação

Um dos principais desafios para o aproveitamento pleno das ferramentas de IA no ensino é a falta de formação docente. Marina Feferbaum destaca a importância de apoiar os professores para que eles não tenham que lidar com o fenômeno de forma isolada. “Estamos realizando muitos treinamentos. Não podemos deixar nas mãos dos professores a responsabilidade de decidir como usar o ChatGPT. É preciso definir políticas claras de uso”, diz Marina.

Na Universidade Federal do ABC (UFABC), a falta de letramento digital entre os docentes tem limitado o uso da IA na graduação, segundo Michelle Sato Frigo, coordenadora do bacharelado em Ciência e Tecnologia. “Embora o projeto pedagógico preveja o uso de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), a ausência de uma regulamentação específica para IA deixa o uso da tecnologia a critério de cada professor”, explica Michelle.

IA nas Universidades e no Mercado de Trabalho

Segundo a pesquisa da Inside Higher Ed, as principais utilizações da IA nas universidades incluem assistentes virtuais e chatbots (45%), análises preditivas do desempenho dos alunos (31%), pesquisa de análise de dados (28%), cibersegurança (26%), processos de admissão (25%), sistemas de gestão de aprendizagem (24%), processos administrativos (19%) e arrecadação de fundos (14%).

Além disso, a FIAP, que oferece uma graduação em inteligência artificial, tem como um de seus objetivos formar profissionais capazes de criar assistentes digitais cognitivos. “Essa é uma área promissora que atenderá médicos, advogados e outros profissionais. Por que um médico não poderia usar um assistente digital para uma segunda opinião ou um advogado para redigir uma petição?”, questiona Wagner Sanchez, pró-reitor da FIAP.

Camilly Alves, de 21 anos, abandonou o curso de enfermagem em Recife para estudar IA em São Paulo. “No curso, aprendemos a ensinar a máquina a pensar”, diz a cientista de dados em formação.