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Empresas de tecnologia ocultam emissões de carbono da inteligência artificial usando créditos de energia

Postado em: 28/08/2024 | Por: Emerson Alves

Empresas como Amazon, Microsoft e Meta estão utilizando créditos de energia renovável para mascarar o impacto ambiental real de suas operações de inteligência artificial.

O crescimento acelerado da inteligência artificial (IA) nas grandes empresas de tecnologia está gerando uma preocupação ambiental significativa. Empresas como Amazon, Microsoft e Meta estão utilizando créditos de energia renovável para reduzir artificialmente suas pegadas de carbono, ocultando assim o verdadeiro impacto ambiental de suas operações.

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O impacto oculto das operações de IA

A expansão da IA exige uma quantidade crescente de energia, e embora as empresas afirmem que essa energia provém de fontes renováveis, a realidade pode ser bem diferente. Um relatório da Bloomberg Green revelou que as empresas estão utilizando créditos de energia renovável, conhecidos como RECs (Certificados de Energia Renovável), para alegar reduções de emissões de carbono que não refletem necessariamente a realidade física.

Esses créditos, muitas vezes comprados separadamente da energia real consumida, podem criar a ilusão de que a eletricidade utilizada, muitas vezes proveniente de usinas a carvão, é “limpa”. Isso distorce as contas de carbono das empresas e impede uma visão clara do impacto ambiental causado pelo uso crescente da IA.

Aumentos nas emissões disfarçados

Embora a Microsoft tenha estabelecido metas ambiciosas para se tornar carbono negativa, suas emissões reais aumentaram 30% desde 2020. A Amazon, por sua vez, pode estar subestimando suas emissões em 8,5 milhões de toneladas métricas de CO2, enquanto a Meta pode estar reportando 740 mil toneladas a menos. Essas discrepâncias são atribuídas ao uso dos RECs não agrupados, que permitem que as empresas deduzam emissões sem que haja uma redução real no consumo de energia fóssil.

Silke Mooldijk, especialista em responsabilidade climática do NewClimate Institute, critica essa prática, argumentando que é enganosa para os consumidores e investidores, e não contribui para as reduções reais de emissões necessárias para combater a mudança climática.

Google: uma abordagem diferente

Ao contrário de outras gigantes da tecnologia, o Google eliminou o uso de RECs não agrupados em suas operações, reconhecendo que esses créditos não representam reduções reais de emissões. A empresa optou por contratos de compra de energia limpa diretamente com fornecedores, garantindo assim que a eletricidade utilizada seja de fontes renováveis de fato. Michael Terrell, diretor sênior de energia e clima do Google, afirmou que a empresa está empenhada em buscar energia livre de carbono em todos os seus centros de dados, hora a hora.

O desafio das normas contábeis de carbono

As normas contábeis de carbono atuais, desenvolvidas pelo Protocolo de Gases de Efeito Estufa, ainda permitem o uso de RECs para fins de relato de emissões, o que tem sido amplamente criticado por especialistas. Essa flexibilidade nas normas permite que as empresas façam alegações exageradas sobre suas credenciais ambientais, sem que haja um impacto real no combate à mudança climática.

Anders Bjorn, professor assistente da Universidade Técnica da Dinamarca, junto com outros pesquisadores, revelou que após ajustar o uso de RECs, 40% das empresas estudadas não estavam mais alinhadas com as metas do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C. Isso mostra a necessidade urgente de uma revisão das normas contábeis para refletir melhor a realidade das emissões de carbono.

O futuro das práticas de sustentabilidade

A pressão sobre as empresas para adotarem práticas mais sustentáveis e transparentes está crescendo. O lobby por mudanças nas normas contábeis de carbono está em andamento, com o objetivo de criar um sistema mais rigoroso e preciso para relatar as emissões. A forma como as grandes empresas de tecnologia respondem a essas mudanças pode determinar o futuro da sustentabilidade corporativa em um setor cada vez mais dependente de energia intensiva, como é o caso da IA.

Em um cenário onde a energia limpa se torna cada vez mais acessível e competitiva, a expectativa é que as empresas se afastem do uso de RECs não agrupados e se voltem para fontes de energia verdadeiramente renováveis. O compromisso com práticas mais transparentes e responsáveis será crucial para manter a confiança dos consumidores e investidores e, ao mesmo tempo, contribuir de maneira efetiva para a mitigação das mudanças climáticas.